27 de fevereiro de 2011

[HQ] Super-Heróis e a Física

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Quer saber como os super-heróis podem ser aplicados a física?
Na época do priemiro filme dos X-men, a revista Super Interessante publicou uma matéria de como seriam os mutantes se eles realmente existissem e sendo consideradas as leis da física como eles seriam, o mais engraçado foi saber que o professor Xavier iria feder pra caramba!
Texto original de Francisco de Assis Nascimento Júnior e publicado no arScientia
Todos os nerds que lêem quadrinhos sabem das comparações que existem na física quando é revelado um super-poder de um super-herói.
A editora que se baseia mais nessa ciência é a DC, enquanto a MARVEL prefere as mutações genéticas.
Porém, irei comentar personagens das duas editoras, porque mesmo um sendo alvo de uma mutação genética ele não está livre das comparações da física em seu dia-a-dia.
Durante a década de 60, um dos personagens mais populares das histórias em quadrinhos, o Homem-Aranha, viveu um de seus momentos mais dramáticos: a morte de sua namorada Gwen Stacy arremessada do topo da ponte George Washington por seu arquiinimigo, o Duende Verde.
Bem que o herói tentou salvá-la com sua teia, mas não adiantou: o choque foi fatal e Gwendolyne Stacy morreu durante a queda.
Pelo menos, essa foi a explicação dada pelos editores e que povoou a mente de milhares de fãs até o ano de 1995, quando o professor James Kakalios, da Universidade de Minnesota nos Estados Unidos, desvendou esse mistério de mais de 20 anos!
O motivo da morte? Pescoço quebrado. A explicação? O princípio da conservação do momento! Mesmo tendo alcançado sua namorada com sua teia, antes que ela atingisse o chão, a constante elástica da teia não foi suficiente para amortecer o impacto da parada brusca.
Talvez por isso sua teia (nos filmes recentes para o cinema) tenha uma constante elástica tão grande, chegando a agir como uma mola em determinadas cenas.
As histórias em quadrinhos de super-heróis apresentam um universo próximo ao nosso, com a diferença que nele a ciência poderia ser facilmente confundida com magia, por realizar verdadeiros “milagres”.

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Tudo é possível para a Física nas páginas dessas histórias, de viagens ao espaço sideral em foguetes domésticos até adentrar dimensões paralelas pela porta de um armário.
Claro que foguetes de fundo de quintal são inviáveis no mundo real (uma nave capaz de viajar pelo espaço requer o uso de alta tecnologia, não só em termos de potência, como também em questão de pontaria, já que todos os planetas no universo estão em movimento) e os leitores de revistas em quadrinhos sabem disso, da mesma maneira que, na vida real, ninguém é capaz de voar como o Super-Homem ou de subir pelas paredes como o Homem-Aranha.
Se por um lado as histórias dos heróis dos quadrinhos dificilmente teriam graça se os personagens vivessem conforme conceitos estritamente científicos, por outro elas levam a física bem mais a sério do que pensamos, por mais vezes do que se pode imaginar.
Muitas vezes as revistas de super-heróis acabam por agir como verdadeiros textos de divulgação científica: é possível encontrar exemplos de descrições corretas de vários princípios físicos nas histórias em quadrinhos, abrangendo da mecânica clássica, eletricidade, magnetismo à quântica.
Como coadjuvante ou protagonista, a presença de um gênio inventivo é praticamente obrigatória em qualquer história de qualidade. Sem os cientistas, quebrando todos os galhos, os quadrinhos não teriam graça.
É a ciência, muitas vezes, que determina o ponto alto de uma aventura.
 Fazer com que os super-heróis pulem de suas revistas diretamente para o quadro-negro pode permitir o trabalho com uma questão interessante: os poderes e habilidades “maravilhosos” de suas histórias “teriam lugar” em um universo guiado por rígidas leis da física, como o nosso?
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No início de sua carreira nos quadrinhos, por exemplo, o Super-Homem não era capaz de voar – ele saltava sobre enormes edifícios!
Se levarmos em consideração que um prédio comercial de escritórios norte-americano tem uma média de 30 andares, as pernas do herói precisariam produzir uma estupenda força, correspondente a 2.721,55 kg ao pular: um cálculo fácil de ser reproduzido pelos alunos.
A explicação dada pelos autores de suas histórias a respeito de sua estupenda força é o fato da gravidade de seu planeta natal, Krypton, ser muitas vezes maior que a da Terra.
Calcular a força gravitacional de Krypton pode se tornar uma atividade interessante e muito divertida sobre vários tópicos da Física e mesmo da Astronomia: a resposta a ser encontrada corresponde a um valor aproximado de 7 vezes a gravidade da Terra.
Isso significa que, para que esse planeta pudesse existir em nosso universo, teria de ser quase 7 vezes maior que o nosso, ou quase 7 vezes mais denso.
Planetas dessa ordem de grandeza são gigantes gasosos, assim como Júpiter. Mas, nas Histórias em Quadrinhos, Krypton possuía uma crosta sólida – então, não poderia ser gasoso! Restaria supor que o planeta deveria ser então cerca de 7 vezes mais denso que a Terra.
Acontece que, em nosso universo, para que isso fosse possível, seria necessário que o planeta possuísse um núcleo composto por material super denso (e instável), como uma estrela de nêutrons, por exemplo. Como resultado, esse planeta não poderia existir, pois explodiria. Como de fato acontece nas histórias em quadrinhos.
Um professor de um amigo meu também já tocou no assunto super-heróis durante a aula com a turma na faculdade. Segundo ele, mesmo considerando que o Super-Homem voe – ele não é bonzinho? – seria fisicamente impossível de realizar curvas por não haver pontos de impulso que o fizesse mudar a direção.
Seu vôo se dá devido à impulsão inicial do chão, inclinado a uma direção já pré-definida, igual alguns mísseis que estão apontados para o alvo e permanecem em linha reta. Sendo assim, ele não apenas é super-forte, mas também inteligente o suficiente para fazer cálculos tão precisos rapidamente.
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Outro personagem que é um prato cheio para uso em sala de aula é o velocista Flash. seus poderes abrem caminho para uma vasta gama de discussões, desde aplicações da teoria da relatividade até física do corpo humano.
Como ele poderia respirar ao correr à velocidades supersônicas? Quanto ele precisaria comer para poder correr assim? Seria possível que ele corresse pelas paredes, subindo pela fachada de edifícios ou sobre a água? Por que o Flash da época da Segunda Guerra Mundial, Jay Garrick, não envelhece? Enfim, ao menos uma coisa interessantíssima a respeito do personagem eu já discuti entre amigos.
É possível que Flash atravesse paredes e outras formas sólidas, pois ele é capaz de movimentar suas moléculas tão rapidamente que ultrapassam a velocidade das moléculas existentes nos alvos, como a parede, possibilitando-o atravessar por ela.
Essas perguntas à cima são exemplos que podem ser trabalhadas em sala de aula, envolvendo não só o estímulo da imaginação como a compreensão dos conceitos envolvidos em fenômenos físicos, ao invés do simples domínio de fórmulas.
Na edição 208 da revista americana The Flash, publicada em maio de 2004 (publicada no Brasil na edição 33 da Revista Liga da Justiça, em agosto de 2005), o herói-mirim Kid Flash derrota o vilão Trapaceiro utilizando o princípio da inércia.
E para facilitar a compreensão do que estava fazendo, explicita ao vilão o enunciado da 1ª Lei de Newton durante a batalha!. Não se trata de uma tentativa de tornar plausível a existência de superpoderes, mas de mostrar aos alunos como fazer as perguntas certas, estimulando a formação de um pensamento crítico que possa ser aplicável em outras situações.
Há efeitos físicos secundários envolvidos no uso das superhabilidades de qualquer herói de revistas em quadrinhos. E é aí que reside o gancho que pode ser trabalhado em sala de aula: é um mito bastante comum dizer que somente um perito em matemática pode compreender e apreciar a física, assim como dizer que histórias em quadrinhos de super-heróis servem apenas como forma de diversão descompromissada ao público jovem.
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O livro The Physics of Superheroes, de Jim Kakalios, trata muito bem desse assunto. Ainda não possui tradução para o português e não acredito que um dia terá, mas, como a esperança é a última que morre, eu estou na fila.
Texto original de Francisco de Assis Nascimento Júnior e publicado no arScientia